terça-feira, 25 de março de 2014

A minha apresentação :)

Hoje decidi começar um blog para dividir esta aventura de alegria e dor, que está a ser tentar ser Mãe.  Sempre adorei escrever e achei que seria interessante pode ‘desabafar’ desta forma e quem sabe partilhar a minha história com mulheres e homens que estejam a fazer o mesmo caminho.
Sou uma jovem de 26 anos, casada há uns meses. Estou com o meu marido há dois anos e meio e em Abril do ano passado engravidámos. A alegria foi imensa e especialmente eu não cabia dentro do meu corpo de tanta felicidade. A família, os amigos estavam completamente doidos com a novidade.
Infelizmente essa alegria durou pouco tempo. Tivemos o positivo no dia 20 de Abril e no dia 23 na consulta com a minha GO ela disse-me logo que não tinha nada no útero e que quase de certeza que era uma gravidez ectópica. Só quem já passou por isso consegue imaginar aquilo que eu senti naquele momento.
As dores cada vez eram mais chatas e no dia seguinte fui à MAC, continuava sem se ver nada no útero mas mandaram-me aguardar.
Sábado depois do almoço senti aquela mesma sensação de quando nos aparece o período e temi o pior. Sangue. Mantive-me calma e pedi ao meu marido para ir para o hospital. Tinha dores insuportáveis e não parava de vomitar. Uma pulseira verde no pulso e horas de espera pela frente. Estava completamente desesperada. Tinha de me contorcer, de me deitar, eu sei lá. Pedi ao meu marido para me levar para casa porque não aguentava estar ali. Naquela altura as dores eram tão fortes que o meu cérebro nem se lembrou que corria risco de vida.
Voltei para casa e cada vez estava pior. A certa altura tive de pedir ao meu marido para chamar os bombeiros porque achava que ia morrer. Vieram duas miúdas, mais novas que eu, que não faziam ideia do que era uma gravidez ectópica e que assustadas me levaram à maternidade de onde tinha saído à pouco.
Dei entrada bastante mal, a minha temperatura corporal já estava muito baixa e os médicos temeram pela minha vida. Tive entrada directa e vários médicos à minha volta. Passei a noite numa sala de vidros que não faço ideia do que era mas acho que era o SO, cheia de máquinas ligadas ás pernas  e aos braços. Não podia andar, nem para ir à casa de banho.
Nessa altura eu nem conseguia pensar que estava a perder o meu bebé porque as dores e sofrimento eram tais que não me permitiam pensar nisso.
Passei a noite a ouvir as outras mulheres a parirem e os bebés a chorarem pela primeira vez.
Por volta das 6 da manhã veio uma senhora da limpeza ter comigo e perguntar-me se já tinha tido o meu bebé e se estava tudo bem com ele. Aí caiu-me a ficha como se costuma dizer e desatei a chorar. Expliquei-lhe que tinha uma gravidez ectópica e ela fiquei branca pela pergunta que me tinha feito. Agarrou-me na mão e disse-me que há 12 anos atrás também tinha tido uma e que logo depois conseguiu engravidar e que comigo também ia correr tudo bem.
Entrou a nova equipa ao serviço e levaram-me para a sala da eco para fazerem uma nova avaliação.
Aí informaram-me que dentro de uma hora iria ser operada porque o bebé continuava vivo, apesar de estar na trompa e que corria risco de vida. Informaram-me ainda que me iriam tirar a trompa. Eu nunca respondi a nada, só chorava.
Levaram-me novamente para o sitio onde passei a noite e aí liguei para o meu marido e a minha mãe a dizer que ia ser operada e para eles depois do almoço virem ter comigo ao hospital.
Lembro-me de entrar no bloco a chorar e de serem todos muito meiguinhos comigo. Lembro-me bem da cara o anestesista, um velhote encantador. Apaguei..
A primeira vez que abri os olhos tinha o anestesista a agarrar-me a mão e a dizer-lhe baixinho que não tinham tirado a trompa e que daqui a pouco tempo ia engravidar outra vez. Mas nessa altura eu queria lá saber da gravidez.
As 5 da tarde levaram-me para o quarto e eu tinha a minha família TODA no hospital. Os primeiros a entrar foram o meu marido e a minha mãe. Eu estava bem e com três buracos na barriga.
Mostrei-me sempre forte e que perder um bebé não me tinha marcado o coração. Passado uns dias fui para casa e a minha mãe ficou lá 10 dias a ajudar-me. Nunca chorei.
No dia em que ela se foi embora e a porta da minha casa bateu eu chorei, gritei, berrei, parti coisas..eu tinha perdido o meu filho. O primeiro tão desejado.
Não me conformei durante meses chorei todos os dias. Agora não podia tentar engravidar em fazer a histerossalpingografia que só estava marcada para Outubro. Tinha uma longa espera pela frente. O medo de passar por tudo novamente era tão grande que até Setembro cumpri as indicações dos médicos à risca e só tive relações protegidas.
A histerossalpingografia correr MUITO MAL  e eu tive uma convulsão mal o contraste entrou. Não me lembro de nada e foi uma experiência terrível. O resultado foi que estava tudo bem com as minhas trompas e que podia engravidar sem qualquer problema sendo que nos três próximos meses seria mais fácil engravidar.
Não engravidei em Outubro, não engravidei em Novembro e aí fui-me abaixo. Passei uma fase muito difícil. Quem já passou por isto sabe toda a angústia que eu senti. Decidi increver-me na consulta de Apoio à Fertilidade da MAC.
Em Dezembro decidimos não pensar no assunto já que íamos estar de férias e no inicio do ano procurar um especialista. Marcamos consulta num hospital privado.
Nessa consulta ficamos encantados com a médica que foi um doce e nos mandou fazer exames. Eu fiz todos e comigo não havia qualquer problema, agora era a vez do meu marido fazer um espermograma. Entretanto fomos à MAC e o famoso Dr. Gervásio decidiu que não iria avançar com o processo por eu ter tido aquela convulsão e que só me atenderia novamente depois de um relatório da médica que me fez o exame ou um relatório de um neurologista. Nem queria acreditar. Quando finalmente estava na MAC o processo tinha sido parado e nem sequer podíamos ir fazendo os exames.
Tentei resolver a questão do relatório e só quase 2 meses depois a medica o enviou ao Dr. Gervásio.
Nesta altura estava a ser demasiado confuso para a nossa vida estarmos a ser acompanhados no privado e no publico porque um médico dizia para fazermos A e o outro dizia para fazermos B. Um dizia que as análises não estavam boas o outro dizia que estava óptimas. Então decidimos suspender o privado e avançar no público.
Estamos a tentar ter um filho desde Julho de 2012 e ainda não temos um diagnóstico.
Estamos a ser acompanhados na MAC e eu gostaria de dizer que ADORO. É certo que tudo demora meses mas o facto é que nesse hospital privado onde estávamos, também esperávamos meses para uma consulta.
Vou continuar a escrever aqui todos os passos que dermos nesta nossa caminhada.


Beijinhos

14 comentários:

  1. Cátia, li o teu post e assumo que chorei. Ando muito em baixo por não engravidar, mas passar por um aborto é muito pior. Desejo do fundo do coração que a tua estrelinha brilhe em breve e que a tua vida sejam só alegrias daqui para a frente.
    Um enorme beijinho.
    Sara Brás

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  2. Obrigada querida! Escrevo estas coisas porque me sabe bem partilhar com o mundo de forma indireta.
    Um beijinho grande para ti*

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  3. Cátia, não sei que mais possa dizer além de desejar que muito em breve o teu desejo se torne realidade. Um beijo grande de alguém que tem uma luta semelhante :)

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  4. Sei que vou conseguir, resta-me esperar que a cegonha me bata à porta :)
    Obrigada pelas tuas palavras

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  5. Ola! Sigo a tua historia ha algum tempo, e vim aqui dizer-te que estou a torcer por ti, espero sinceramente que a primavera te traga o teu rebento... Um beijo e força!

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  6. Obrigada Claudia. Eu estou confiante como sempre :) Beijinho grande*

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  7. Apesar de ainda não ter começado esta viagem, tenho seguido a tua história... Caiu-me completamente a ficha quando li a tua apresentação, realmente o ser humano é algo indescritível e já mais conseguirá lidar com qualquer tipo de perde, principalmente uma perda de algo tão nosso, tão profundo! Contudo as tuas palavras transmitem um tipo de força completamente inigualável e que o que nos mantêm vivos é mesmo a esperança e tu tens muita e ainda bem :D
    Irei continuar a acompanhar-te porque de uma maneira diferente a este mundo acho-te parecida comigo, UMA MULHER LUTADORA aposto que um dia irás trazer ótimas noticias...
    Um beijinho cheio de força +.+

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  8. Tânia, obrigada pelas tuas palavras. Foram bastante motivadoras para continuar a minha luta e o meu blog.
    Tento o mais possível não me ir a baixo mas uma vezes é possível e outras nem tanto.
    Sei que um dia vou conseguir mesmo que seja preciso ajuda da ciência e que esse dia pode ser já no próximo ano.
    É importante não baixar os braços, é importante acreditar e é importante que o casal se mantenha unido para este sonho. Beijinhos

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  9. Tem de existir um encontro de coisas importantes para que flua outras tantas, um outro amor, um outro coração... É importante tudo, até o mais insignificante se torna especial!
    Mantêm os braços bem no alto e o sorriso sempre confiante, que tudo não passa apenas de um sonho menos bom, porque não existem sonhos maus. E nos dias em que te sentires mais fragilizada acredita em ti, que tu és capaz e que vais conseguir. A "pedra chata no sapato" vai sair quanto TU MENOS ESPERARES te garanto :D

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  10. Obrigada :)
    Hoje é um dia desses 'menos bons'. Avizinham-se dias difíceis. Abril foi o mês em que os meus sonhos se realizaram e também o meu mundo acabou.

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  11. Não evites chorar, quando tiveres necessidade de chorar, chora, não olhes em torno porque as pessoas que não o compreendem já mais o irão tentar sequer... Compreendo a limpidez da tua amargura e o quanto te domina os dias principalmente o "tal" em que tudo aconteceu... É uma dor incontrolável um sufoco incompreendido...
    E sei o quanto evitas chorar em algumas situações e o quanto esperas o silêncio da noite para o fazeres sem que ninguém se aperceba para que só tu tenhas aquele momento para tentares perceber o porquê, até adormecer!!
    Compreendo-te tão bem... Mas no dia seguinte, temos de acreditar em nós, levantar novamente a cabeça, colocar um sorriso leve no rosto e continuar a caminhar, no fundo o dia tem obrigatoriamente de ser diferente nem que seja para demostrar e retribuir todo o amor que recebemos, porque são eles (essas pessoas e a "NOSSA OUTRA METADE") que nos vão mantenho intactas nesta fase difícil..
    Um beijinho grandee...

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  12. Obrigada tânia. As tuas palavras dão-me força

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  13. Sempre que precisares de desabafar, estou aqui... Apesar de ser uma mera desconhecida, podes contar comigo quando quiseres :)

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  14. Olá Cátia
    Estive a ler a tua história e de certa forma percebo a mágoa de cada palavra que escreves. Não passei pelo desgosto de perder um filho, mas vivo com o desgosto de não conseguir engravidar. Já são mais de 3 anos de tentativas falhadas, sempre a tentar adiar o inadiável: controlar ciclos, escolher meticulosamente os dias, estar atenta ao corpo, mas nada. A partir deste mês começo a luta do tratamentos médicos. Não sei se vai resultar ou não, mas também não posso não tentar. Queria apenas que soubesses que não estás sozinha, há muitas meninas que se reveem nas tuas palavras, por isso passei por aqui para te dar mais um bocadinho de força e coragem! Bjinhos

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