Hoje decidi começar um blog para dividir esta aventura de
alegria e dor, que está a ser tentar ser Mãe.
Sempre adorei escrever e achei que seria interessante pode ‘desabafar’
desta forma e quem sabe partilhar a minha história com mulheres e homens que
estejam a fazer o mesmo caminho.
Sou uma jovem de 26 anos, casada há uns meses. Estou com o
meu marido há dois anos e meio e em Abril do ano passado engravidámos. A
alegria foi imensa e especialmente eu não cabia dentro do meu corpo de tanta
felicidade. A família, os amigos estavam completamente doidos com a novidade.
Infelizmente essa alegria durou pouco tempo. Tivemos o
positivo no dia 20 de Abril e no dia 23 na consulta com a minha GO ela disse-me
logo que não tinha nada no útero e que quase de certeza que era uma gravidez
ectópica. Só quem já passou por isso consegue imaginar aquilo que eu senti naquele
momento.
As dores cada vez eram mais chatas e no dia seguinte fui à
MAC, continuava sem se ver nada no útero mas mandaram-me aguardar.
Sábado depois do almoço senti aquela mesma sensação de
quando nos aparece o período e temi o pior. Sangue. Mantive-me calma e pedi ao
meu marido para ir para o hospital. Tinha dores insuportáveis e não parava de
vomitar. Uma pulseira verde no pulso e horas de espera pela frente. Estava
completamente desesperada. Tinha de me contorcer, de me deitar, eu sei lá. Pedi
ao meu marido para me levar para casa porque não aguentava estar ali. Naquela
altura as dores eram tão fortes que o meu cérebro nem se lembrou que corria
risco de vida.
Voltei para casa e cada vez estava pior. A certa altura tive
de pedir ao meu marido para chamar os bombeiros porque achava que ia morrer.
Vieram duas miúdas, mais novas que eu, que não faziam ideia do que era uma
gravidez ectópica e que assustadas me levaram à maternidade de onde tinha saído
à pouco.
Dei entrada bastante mal, a minha temperatura corporal já
estava muito baixa e os médicos temeram pela minha vida. Tive entrada directa e
vários médicos à minha volta. Passei a noite numa sala de vidros que não faço
ideia do que era mas acho que era o SO, cheia de máquinas ligadas ás pernas e aos braços. Não podia andar, nem para ir à
casa de banho.
Nessa altura eu nem conseguia pensar que estava a perder o
meu bebé porque as dores e sofrimento eram tais que não me permitiam pensar
nisso.
Passei a noite a ouvir as outras mulheres a parirem e os
bebés a chorarem pela primeira vez.
Por volta das 6 da manhã veio uma senhora da limpeza ter
comigo e perguntar-me se já tinha tido o meu bebé e se estava tudo bem com ele.
Aí caiu-me a ficha como se costuma dizer e desatei a chorar. Expliquei-lhe que
tinha uma gravidez ectópica e ela fiquei branca pela pergunta que me tinha
feito. Agarrou-me na mão e disse-me que há 12 anos atrás também tinha tido uma
e que logo depois conseguiu engravidar e que comigo também ia correr tudo bem.
Entrou a nova equipa ao serviço e levaram-me para a sala da
eco para fazerem uma nova avaliação.
Aí informaram-me que dentro de uma hora iria ser operada
porque o bebé continuava vivo, apesar de estar na trompa e que corria risco de
vida. Informaram-me ainda que me iriam tirar a trompa. Eu nunca respondi a
nada, só chorava.
Levaram-me novamente para o sitio onde passei a noite e aí
liguei para o meu marido e a minha mãe a dizer que ia ser operada e para eles
depois do almoço virem ter comigo ao hospital.
Lembro-me de entrar no bloco a chorar e de serem todos muito
meiguinhos comigo. Lembro-me bem da cara o anestesista, um velhote encantador.
Apaguei..
A primeira vez que abri os olhos tinha o anestesista a
agarrar-me a mão e a dizer-lhe baixinho que não tinham tirado a trompa e que
daqui a pouco tempo ia engravidar outra vez. Mas nessa altura eu queria lá
saber da gravidez.
As 5 da tarde levaram-me para o quarto e eu tinha a minha
família TODA no hospital. Os primeiros a entrar foram o meu marido e a minha
mãe. Eu estava bem e com três buracos na barriga.
Mostrei-me sempre forte e que perder um bebé não me tinha
marcado o coração. Passado uns dias fui para casa e a minha mãe ficou lá 10
dias a ajudar-me. Nunca chorei.
No dia em que ela se foi embora e a porta da minha casa
bateu eu chorei, gritei, berrei, parti coisas..eu tinha perdido o meu filho. O
primeiro tão desejado.
Não me conformei durante meses chorei todos os dias. Agora
não podia tentar engravidar em fazer a histerossalpingografia que só estava
marcada para Outubro. Tinha uma longa espera pela frente. O medo de passar por
tudo novamente era tão grande que até Setembro cumpri as indicações dos médicos
à risca e só tive relações protegidas.
A histerossalpingografia correr MUITO MAL e eu tive uma convulsão mal o contraste
entrou. Não me lembro de nada e foi uma experiência terrível. O resultado foi
que estava tudo bem com as minhas trompas e que podia engravidar sem qualquer
problema sendo que nos três próximos meses seria mais fácil engravidar.
Não engravidei em Outubro, não engravidei em Novembro e aí
fui-me abaixo. Passei uma fase muito difícil. Quem já passou por isto sabe toda
a angústia que eu senti. Decidi increver-me na consulta de Apoio à Fertilidade
da MAC.
Em Dezembro decidimos não pensar no assunto já que íamos estar
de férias e no inicio do ano procurar um especialista. Marcamos consulta num
hospital privado.
Nessa consulta ficamos encantados com a médica que foi um
doce e nos mandou fazer exames. Eu fiz todos e comigo não havia qualquer
problema, agora era a vez do meu marido fazer um espermograma. Entretanto fomos
à MAC e o famoso Dr. Gervásio decidiu que não iria avançar com o processo por
eu ter tido aquela convulsão e que só me atenderia novamente depois de um
relatório da médica que me fez o exame ou um relatório de um neurologista. Nem
queria acreditar. Quando finalmente estava na MAC o processo tinha sido parado
e nem sequer podíamos ir fazendo os exames.
Tentei resolver a questão do relatório e só quase 2 meses
depois a medica o enviou ao Dr. Gervásio.
Nesta altura estava a ser demasiado confuso para a nossa
vida estarmos a ser acompanhados no privado e no publico porque um médico dizia
para fazermos A e o outro dizia para fazermos B. Um dizia que as análises não
estavam boas o outro dizia que estava óptimas. Então decidimos suspender o
privado e avançar no público.
Estamos a tentar ter um filho desde Julho de 2012 e ainda
não temos um diagnóstico.
Estamos a ser acompanhados na MAC e eu gostaria de dizer que
ADORO. É certo que tudo demora meses mas o facto é que nesse hospital privado
onde estávamos, também esperávamos meses para uma consulta.
Vou continuar a escrever aqui todos os passos que dermos
nesta nossa caminhada.
Beijinhos