quarta-feira, 26 de março de 2014

O apoio que (não) temos


 Quando falamos de infertilidade, falamos normalmente de uma doença quee se esconde em casa, e fica muitas vezes apenas entre o casal.
Ao longo do meu percurso nesta história de amor, nunca tive o apoio da minha família ou dos meus amigos.
Todos sabem pelo que estamos a passar mas ninguém nos dá uma palavra, um conforto.
Não me esqueço na altura em que tive a gravidez ectópica que apenas duas amigas me foram visitar e toda a gente soube o que se passou. Estive um mês em casa e alguns amigos/as nem uma mensagem me mandaram.
Ainda não lhes perdoei e penso que no fundo todos sabem disso.
As únicas palavras que oiço de todos é que não engravido por causa da minha ansiedade. Pergunto, qual ansiedade? Como sabem que estou ansiosa para engravidar se simplesmente não falam comigo sobre esse assunto?
Quem realmente fala comigo e me acompanha no forúm, sabe que estou calma e tranquila, na minha viagem.
Dizem-me que sou muito nova e que tenho a vida toda para ter filhos. Cheguei ao ponto de ouvir a seguinte frase: Então mas tu agora passaste a ser infértil é só porque sim? Já engravidaste uma vez, não tens problema nenhum. Conseguem imaginar o que isto é? Para além de não nos darem apoio, ainda parece que gozam com a situação.
Afastei-me de toda a gente. Não consigo ligar com esta falta de apoio daqueles que deveriam ser os primeiros a lá estar para mim. Porque são ‘os meus’.
Acho que isto se deve simplesmente à falta de informação que as pessoas têm no nosso país. A ignorância é uma coisa triste.
Fico cheia de raiva a as vezes desejo-lhes que passem pelo mesmo que estou a passar. É muito triste. Pergunto-me ‘se eu tivesse um cancro será que eles não também não me iam apoiar’?
Iriam sem dúvida, o problema é que para eles infertilidade não é uma doença mas sim qualquer coisa que afecta ‘gajas neuróticas’.
Pensei que fosse só a mim que isto estivesse a acontecer. Achei que todas as famílias deste casais os apoiavam e os amigos também.
Mas tenho me vindo a aperceber que a maioria dos casais se queixa de falta de apoio e que ninguém quer saber do sofrimento pelo qual estão a passar.
Ás vezes penso que quando tiver o meu filho e passarem a vida a ir vê-lo ou a mimar-me quando estiver grávida, porque tenho a certeza que um dia vou conseguir, vai-me saltar a tampa e vou dizer-lhe que agora não preciso deles. Precisei muito quando andei SOZINHA com o meu marido a lutar por isto, a chorar por isto.
Resolvi partilhar isto convosco por ser talvez das piores coisas neste processo para mim.

Desvalorizarem a minha dor..

Gostava de fazer um agradecimento especial à pessoa que me atura todos os dias e que me ajuda a passar por tudo isto. Obrigada Catarina.. <3

terça-feira, 25 de março de 2014

A minha apresentação :)

Hoje decidi começar um blog para dividir esta aventura de alegria e dor, que está a ser tentar ser Mãe.  Sempre adorei escrever e achei que seria interessante pode ‘desabafar’ desta forma e quem sabe partilhar a minha história com mulheres e homens que estejam a fazer o mesmo caminho.
Sou uma jovem de 26 anos, casada há uns meses. Estou com o meu marido há dois anos e meio e em Abril do ano passado engravidámos. A alegria foi imensa e especialmente eu não cabia dentro do meu corpo de tanta felicidade. A família, os amigos estavam completamente doidos com a novidade.
Infelizmente essa alegria durou pouco tempo. Tivemos o positivo no dia 20 de Abril e no dia 23 na consulta com a minha GO ela disse-me logo que não tinha nada no útero e que quase de certeza que era uma gravidez ectópica. Só quem já passou por isso consegue imaginar aquilo que eu senti naquele momento.
As dores cada vez eram mais chatas e no dia seguinte fui à MAC, continuava sem se ver nada no útero mas mandaram-me aguardar.
Sábado depois do almoço senti aquela mesma sensação de quando nos aparece o período e temi o pior. Sangue. Mantive-me calma e pedi ao meu marido para ir para o hospital. Tinha dores insuportáveis e não parava de vomitar. Uma pulseira verde no pulso e horas de espera pela frente. Estava completamente desesperada. Tinha de me contorcer, de me deitar, eu sei lá. Pedi ao meu marido para me levar para casa porque não aguentava estar ali. Naquela altura as dores eram tão fortes que o meu cérebro nem se lembrou que corria risco de vida.
Voltei para casa e cada vez estava pior. A certa altura tive de pedir ao meu marido para chamar os bombeiros porque achava que ia morrer. Vieram duas miúdas, mais novas que eu, que não faziam ideia do que era uma gravidez ectópica e que assustadas me levaram à maternidade de onde tinha saído à pouco.
Dei entrada bastante mal, a minha temperatura corporal já estava muito baixa e os médicos temeram pela minha vida. Tive entrada directa e vários médicos à minha volta. Passei a noite numa sala de vidros que não faço ideia do que era mas acho que era o SO, cheia de máquinas ligadas ás pernas  e aos braços. Não podia andar, nem para ir à casa de banho.
Nessa altura eu nem conseguia pensar que estava a perder o meu bebé porque as dores e sofrimento eram tais que não me permitiam pensar nisso.
Passei a noite a ouvir as outras mulheres a parirem e os bebés a chorarem pela primeira vez.
Por volta das 6 da manhã veio uma senhora da limpeza ter comigo e perguntar-me se já tinha tido o meu bebé e se estava tudo bem com ele. Aí caiu-me a ficha como se costuma dizer e desatei a chorar. Expliquei-lhe que tinha uma gravidez ectópica e ela fiquei branca pela pergunta que me tinha feito. Agarrou-me na mão e disse-me que há 12 anos atrás também tinha tido uma e que logo depois conseguiu engravidar e que comigo também ia correr tudo bem.
Entrou a nova equipa ao serviço e levaram-me para a sala da eco para fazerem uma nova avaliação.
Aí informaram-me que dentro de uma hora iria ser operada porque o bebé continuava vivo, apesar de estar na trompa e que corria risco de vida. Informaram-me ainda que me iriam tirar a trompa. Eu nunca respondi a nada, só chorava.
Levaram-me novamente para o sitio onde passei a noite e aí liguei para o meu marido e a minha mãe a dizer que ia ser operada e para eles depois do almoço virem ter comigo ao hospital.
Lembro-me de entrar no bloco a chorar e de serem todos muito meiguinhos comigo. Lembro-me bem da cara o anestesista, um velhote encantador. Apaguei..
A primeira vez que abri os olhos tinha o anestesista a agarrar-me a mão e a dizer-lhe baixinho que não tinham tirado a trompa e que daqui a pouco tempo ia engravidar outra vez. Mas nessa altura eu queria lá saber da gravidez.
As 5 da tarde levaram-me para o quarto e eu tinha a minha família TODA no hospital. Os primeiros a entrar foram o meu marido e a minha mãe. Eu estava bem e com três buracos na barriga.
Mostrei-me sempre forte e que perder um bebé não me tinha marcado o coração. Passado uns dias fui para casa e a minha mãe ficou lá 10 dias a ajudar-me. Nunca chorei.
No dia em que ela se foi embora e a porta da minha casa bateu eu chorei, gritei, berrei, parti coisas..eu tinha perdido o meu filho. O primeiro tão desejado.
Não me conformei durante meses chorei todos os dias. Agora não podia tentar engravidar em fazer a histerossalpingografia que só estava marcada para Outubro. Tinha uma longa espera pela frente. O medo de passar por tudo novamente era tão grande que até Setembro cumpri as indicações dos médicos à risca e só tive relações protegidas.
A histerossalpingografia correr MUITO MAL  e eu tive uma convulsão mal o contraste entrou. Não me lembro de nada e foi uma experiência terrível. O resultado foi que estava tudo bem com as minhas trompas e que podia engravidar sem qualquer problema sendo que nos três próximos meses seria mais fácil engravidar.
Não engravidei em Outubro, não engravidei em Novembro e aí fui-me abaixo. Passei uma fase muito difícil. Quem já passou por isto sabe toda a angústia que eu senti. Decidi increver-me na consulta de Apoio à Fertilidade da MAC.
Em Dezembro decidimos não pensar no assunto já que íamos estar de férias e no inicio do ano procurar um especialista. Marcamos consulta num hospital privado.
Nessa consulta ficamos encantados com a médica que foi um doce e nos mandou fazer exames. Eu fiz todos e comigo não havia qualquer problema, agora era a vez do meu marido fazer um espermograma. Entretanto fomos à MAC e o famoso Dr. Gervásio decidiu que não iria avançar com o processo por eu ter tido aquela convulsão e que só me atenderia novamente depois de um relatório da médica que me fez o exame ou um relatório de um neurologista. Nem queria acreditar. Quando finalmente estava na MAC o processo tinha sido parado e nem sequer podíamos ir fazendo os exames.
Tentei resolver a questão do relatório e só quase 2 meses depois a medica o enviou ao Dr. Gervásio.
Nesta altura estava a ser demasiado confuso para a nossa vida estarmos a ser acompanhados no privado e no publico porque um médico dizia para fazermos A e o outro dizia para fazermos B. Um dizia que as análises não estavam boas o outro dizia que estava óptimas. Então decidimos suspender o privado e avançar no público.
Estamos a tentar ter um filho desde Julho de 2012 e ainda não temos um diagnóstico.
Estamos a ser acompanhados na MAC e eu gostaria de dizer que ADORO. É certo que tudo demora meses mas o facto é que nesse hospital privado onde estávamos, também esperávamos meses para uma consulta.
Vou continuar a escrever aqui todos os passos que dermos nesta nossa caminhada.


Beijinhos